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Artes de pesca tradicionais em Olhão

 

Artes de pesca são todos os instrumentos ou métodos que permitem a captura de peixe, moluscos ou crustáceos.

São conhecidas pelos marítimos olhanenses cerca de 24 artes de pesca.

Apesar de algumas não serem actualmente utilizadas devido à legislação em vigor as proibir, ou por terem caído em desuso, continuam vivas na sua memória.

 

A- CATEGORIA DAS ARMADILHAS.

São artes de pesca passivas, nas quais os peixes, moluscos ou crustáceos entram à procura de refúgio ou alimento e de onde a saída é difícil ou mesmo impossível.

São geralmente colocadas no fundo com ou sem isco, isoladas ou em findas.

1-Murejonas são armadilhas de forma esférica, confeccionadas artesanalmente com aros concêntricos envolvidos por uma rede metálica. São utilizadas no Verão dentro da Ria e no Inverno junto à costa. As espécies capturadas são a chopa, a mucharra, a bica, e a ferreira.

 

 

2- O Covo é uma armadilha de forma cónica, semelhante à murejona e é utilizada ao longo da costa para a captura do safio, enguia e lagosta.

3- Os Alcatruzes não são mais que potes de barro ou em plástico com um pequeno orifício na base. São utilizadas de Dezembro a Março ao longo da costa e pescam essencialmente o polvo.

 

B - CATEGORIA DAS REDES DE EMALHAR E ENREDAR

São redes de forma rectangular que podem ser simples ou triplas, nos quais os peixes ficam enredados ou emalhados.

Podem ser usadas isoladamente ou ligadas lado a lado, em caçadas.

Consoante a pescaria a que se destinam podem ser colocadas à superfície, a meia água ou sobre o fundo.

1- As redes de emalhar ou redes tansas são constituídas por um único pano de rede que é entralhado num cabo superior – o cabo das bóias – e um cabo inferior – o cabo dos chumbos. A altura e a malhagem do pano varia com a espécie alvo. É utilizada junto à costa nos meses de Janeiro a Abril e dentro da Ria Formosa nos meses de Outubro a Maio. As espécies capturadas são o choco, o linguado, a macaca, o malacueco, a bica, o besugo, o safio, e a faneca.

2- As redes de tresmalho são compostas por 3 panos de rede rectangular sobrepostos. Os panos exteriores, de malhagem mais larga, denominam-se alvitanas e o pano do meio, de malhagem mais apertada e de maior altura, é denominado de miúdo. Tal como a rede de emalhar os panos são entralhados superiormente num cabo de bóias e inferiormente num cabo de chumbos.

 

C- CATEGORIA DE REDES DE CERCO

São redes que cercam o peixe e o encaminham para sacos, donde são recolhidos.

Existem vários tipos diferentes que se adaptam de acordo com as características dos locais e das embarcações utilizadas.

 

1-  Redes de sacada podem ser aplicadas em vários locais com facilidade.
Entre dois barcos de pequeno porte - geralmente uma lancha e um saveiro - é estendido um pano de rede horizontal de malha miúda. A rede é submergida a uma determinada profundidade e o local pode ser ou não engodado. Os peixes que se encontram por cima das redes são capturados quando estas são retiradas das águas. São capturados sobretudo o carapau e a cavala. Clique aqui para ver um texto interessante de José Barbosa sobre a pesca da carapau em Olhão antigo.

2-   A arrastadeira ou rede de pé é uma rede de um só pano, cuja tralha superior é guarnecida de cortiças e a inferior de chumbos. Aos extremos da rede são entralhados duas varas de madeira. Esta arte era colocada numa pequena reentrância, ou junto à costa, sendo puxada para terra a pé, por dois pescadores. Capturava tainhas, solhas e linguados.

3-   O Rapa é uma rede de cercar com uma retenida inferior que fechava o fundo, e que era operada por duas embarcações. Esta arte de pesca era manobrada durante a noite e consistia no lançamento de uma rede em forma de círculo, à volta de quatro candeeiros, suportados por bóias que engodavam o peixe a capturar. A rede era então puxada, de modo a encerrar o fundo. As espécies capturadas eram a cavala, o carapau e a sardinha. Esta arte era também utilizada a bordo dos galeões, primeiro à vela ou a remos e depois já a vapor. Actualmente esta arte é utilizada ainda em maior escala pelas traineiras. Clique aqui para ver um texto interessante de José Barbosa sobre a pesca da sardinha em Olhão antigo.

4-  O Tapa-esteiros embora funcione como armadilha de tipo barreira, também se poderá inserir na categoria das redes de cerco ou na categoria das redes de emalhar. Como o nome indica, eram colocados a tapar a entrada dos esteiros. Esta arte é constituída por vários panos de rede justapostos, de dimensões variáveis, que podem ter vários sacos de rede. É disposta em semi-círculo e montada na vertical, ou em sentido ligeiramente inclinado, sobre estacas cravadas no solo durante a baixa-mar. Os peixes que entre a baixa-mar e a preia-mar tenham penetrado na zona confinada pelo Tapa-esteiros são recolhidos na maré seguinte.

5- Redinha ou arte xávega surge por volta de 1830 e é uma rede envolvente-arrastante de alar para a praia. Era constituída essencialmente por uma bolsa de malha muito apertada, prolongada por duas pequenas asas, nas extremidades das quais estavam amarrados os cabos da alagem. Esta arte consistia em cercar uma área perto da costa, partindo da praia com uma embarcação. A rede era alada para a praia manualmente ou com recurso de animais. Era essencialmente usada apara a apanha da sardinha, e menos frequentemente a pescada, o linguado, o biqueirão e o carapau. O seu uso profissional desaparece por volta de 1903 devido à sua substituição pelas armações da sardinha.

 

D - DRAGAS

São artes que revolvem o fundo para a captura de moluscos e são manobradas sempre em águas pouco profundas.

São munidas de uma espécie de saco ou crivo, que permite a saída de água, da areia e lodo, mas que retém as espécies capturadas.

1-   Arrasto de cintura ou arrasto de cinta é uma draga manual, utilizada em zonas de areia, na maré baixa, constituída por um cabo de madeira, uma cinta e uma armação em ferro com uma espécie de pá na parte inferior, a qual possui um saco de rede.

2-   Arrasto de mão é composto por uma vara de madeira e por um aro de arame, que tem entralhado um cone em rede. É também utilizada nos bancos de areia durante a maré baixa.

3-   Arrasto de popa ou Vara é uma arte de arrasto pelo fundo, rebocado com uma embarcação. É constituído por uma estrutura formada por dois patins metálicos ligados a uma vara de madeira ou de ferro, a qual tem entralhado um saco de rede.

 

E - ARMAÇÕES

São aparelhos fixos de rede envolvente, compostas dum certo número de redes, estabelecidas permanentemente dentro de água. São geralmente dispostas ao longo da costa e de maneira a que o peixe possa entrar livremente para o espaço que elas delimitam, e aí fique retido para facilmente ser apanhado.

1-   A Armação do atum ou Almandrava foi, desde os finais do séc. XVIII até 1972 uma das armações mais usadas no Algarve. No concelho de Olhão existiram no séc. XIX duas armações deste tipo: a da Fuseta, lançada entre 1846e 1865 e a de Bias, lançada entre 1896 e 1899.

2-   A Armação da Sardinha à Valenciana surge em 1884 e foi usada em toda a costa meridional do Algarve, chegando a haver entre Faro e a Fuseta cerca de 19 entre 1890 e 1903, situando-se o arraial da campanha na Ilha da Culatra. Apesar de ser uma arte bem remunerada, desaparece em 1927 com o aparecimento das “sacadas” e dos "cercos" a remos.

 

F- REDES DE ARRASTO

1-  A Ganchorra é uma arte de arrasto, rebocada por uma embarcação destinada à captura de moluscos bivalves. É composta por uma armação metálica dotada de um pente de dentes na parte inferior à qual está ligado um saco de rede.

 

2-  Chalrão é uma arte de arrasto não especificada constituída por um pano de rede de malha muito apertado, entralhado em duas varas que se cruzam formando um triângulo. É manobrada por um homem que em águas pouco profundas arrasta a rede, mergulhando-a e impelindo-a para a frente. O chalrão funcionava ainda como complemento do tapa-esteiros, capturando os peixes que ficavam retidos junto às redes.

 

 

           

G - APARELHOS DE LINHAS E ANZÓIS

Baseiam-se na captura por tracção, utilizando isco natural ou artificial. Podem ser usadas isoladamente ou em grupos consoante a espécie alvo, podem ser colocadas verticalmente ou horizontalmente, à superfície, a meia-água, ou no fundo

 

1-     Aparelho de anzol, também conhecido por palangre ou espinel, surge por volta de 1758 e é constituído por uma linha principal, a madre, à qual estão ligadas linhas secundárias que terminam por um anzol iscado. As dimensões do aparelho, o afastamento entre os estralhos, e o nº de anzóis variam consoante o local e a espécie alvo. É utilizado nos meses de Abril a Novembro para capturar o besugo, a faneca, a ferreira, a chopa, o linguado, a enguia, a sarda e a dourada. Esta arte de pesca era conhecida pela caçada e era a utilizada nos antigos caíques. Clique aqui para ver um texto interessante de José Barbosa sobre a pesca do anzol em Olhão antigo.

 

2-     A toneira é um peso em chumbo, dotado na parte inferior de uma coroa de anzóis, usada na captura de lulas e chocos.

 

 

 

H- ARTES DIVERSAS

 

1- O Aparelho de carteiras é uma arte de pesca bastante recente, usada na captura de búzios. É composto por pequenas bolsas de rede em plástico que são lançadas em teias e iscadas com berbigão.

2- A Fisga é uma arte de pesca por ferimento, constituída por um arpão com vários dentes barbelados. Esta arte é manobrada à noite, em águas pouco profundas, a partir de uma embarcação que é munida de um candeio. Pode ainda ser praticada a pé nas zonas mais baixas da ria. As espécies capturadas são a enguia, o choco e o polvo.
3- A Adriça é um utensílio manual de pesca, que se emprega durante a baixa-mar, para a apanha do lingueirão. É composta por uma haste metálica que termina numa ponta em forma de cone.

4- A faca de mariscar é um utensílio manual usado na apanha de moluscos bivalves, geralmente amêijoa e berbigão. É composta por uma lâmina metálica de bordo não cortante, cravada num cabo de madeira muito curto.

 

5- O chalavar é um apetrecho em forma de saco, montado numa armação circular e é utilizado para lavar, carregar e conservar o peixe. Não é propriamente uma arte de pesca.

 

 

 

 

Bibliografia:

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Exposição "O Mar e a Pesca" promovida pela Câmara Municipal de Olhão no Museu da Cidade entre 15-4-2003 e 15-9-2003.

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Câmara Municipal de Faro - Barcos tradicionais da Ria Formosa, miniaturas de José - Câmara Municipal de Faro, 1998.

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Museu da Capitania do Porto de Faro

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Museu Etnográfico de Faro