Texto sobre Manuel
Madeira do amigo Henrique Madeira
Henrique Madeira, num reencontro com M.M. a
16 de Agosto de 2005, no Parque das Nações, recordou a longa amizade,
desde os seus 15 anos, quando entrou numa empresa em que M. M. trabalhava
e conta:
Na altura era já um rapaz interessado pela
leitura mas sentia-me só nesse meu gosto:
«…lia muito mas vivia num deserto… com os
meus colegas, quer vizinhos, quer das escolas,…na minha vivência não havia
ninguém com excepção do Manuel Reis S. José….e então tive esta sorte, o
totobola! Naquelas pessoas[do emprego] encontro um indivíduo que é o
M.M…..notei logo uma pessoa com uma inteligência muito grande,…, muito
vivo,…o que despertou…muita atenção …contrastava até muito com os
outros…um homem mais profundo…, muito simples, nada vaidoso, muito
sóbrio…, mas o melhor viria depois…. Eu andava já com uns “livrecozitos” e
já apontava…umas coisitas, muito insípidas. Um dia…descobri que [M.M.] era
um homem que lia muito, que escrevia e tinha muitos conhecimentos…eu até
posso considerar o M.M. o meu primeiro mestre…, emprestou-me a “Árvore”, a
revista “Vértice”…de que me tornei assinante, …publicações já com pendor
cultural…, um novo mundo e…autores que eu nem sonhava que existissem, como
Ramos Rosa, Egito Gonçalves, …, Raúl de Carvalho, …, Alves Redol, Fernando
Namora, …, Alberto Ferreira, …, Miguel Torga…. Ele gostava de
ciência, sociologia, não era só a literatura…para mim foi uma nova
descoberta…aquele mundo que eu já gostava e em que eu era um simples
diletante, era mais vasto do que eu pensava e então tive aqui um braço
extraordinário…e outros apoios que ele também me deu…no aspecto político,
cívico,…, um sector para mim altamente gratificante, porque verifiquei que
era um homem que tinha preocupações de intervenção na sociedade,…,mas
dentro daquela sobriedade muito grande…não vi nunca da parte dele uma
atitude… ostensiva, não!»