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Antero Nobre

Historiador, político e jornalista, nasce em Moncarapacho em 1910 e falece em Olhão em 1997.

Antero Nobre foi um dos intelectuais olhanenses mais produtivos, pertencente à tríade intelectual de ouro da segunda metade do séc. XX (onde também incluo Francisco Fernandes Lopes e Alberto Iria).

Desde cedo apresentou grande interesse pelas letras e pela cidadania empenhada em Olhão e no Algarve.

Embora tendo frequentado a Faculdade de Letras, não concluiu o curso.

Foi, durante anos, funcionário do Instituto Nacional das Actividades Económicas, tendo-se aposentado por motivos de saúde, passando então a exercer o magistério.

Atendendo ser politicamente da confiança do Estado Novo exerceu o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Olhão entre  1950 e inícios de 1953, por alegado desentendimento com uma facção interna do regime.

Fotografia retirada de Villares, João - Quem é quem em Olhão? - 1ª ed., 1º Vol., Livraria Clinar, Olhão, 2004

Teodomiro Neto, que o conheceu em 1988, revela no jornal O Olhanense de 1-3-2003 que Antero Nobre "era um mestre no diálogo. Homem culto, sedutor no dizer a palavra muito certa e pensada. Deu-me novidades sobre João Lúcio e a sua tragédia familiar; contou-me histórias amorosas. Do Alberto Iria. Da Maria Eduarda Gonzalo. Deste e daquela. (...) Abalei do Largo de S. Sebastião embriagado pela arte das palavras. Pela engenharia mental dum homem, perto dos oitenta anos (...)".

Sendo um exímio orador e contador de histórias, não resisto a revelar uma história picaresca que ele contava aos amigos: mal foi nomeado para o cargo de Presidente da Câmara, recebeu a visita da matrona-gerente da casa de meninas mais chique da terra - a Srª Dona Rosa Eleutério -, disponibilizando os serviços da sua casa, gratuitamente e discretamente, enquanto o mesmo exercesse o seu digno mandato! Parece que este convite era, nessa época saudosa, habitual logo nos primeiros dias de todos os Presidentes da Câmara de Olhão...

A sua ligação ao regime salazarista foi patenteada pelas condecorações que a Legião Portuguesa lhe deu - medalha de Dedicação de Prata e, depois, de Oiro - e por algumas das suas publicações:

bulletAs Populações Urbanas e a Guerra, Faro, 1942
bulletNo Juramento de Bandeiras, Tavira, 1942
bulletPola Ley e Pola Grey, Faro, 1944
bulletActo de Presença, Acto de Juventude, Acto de Fé!, Tavira, 1945
bulletQuarenta anos depois do 28 de Maio, Faro, 1966

 

Muito interessado pela história de Olhão publicou:

bulletSanto Cristo de Moncarapacho, Faro, 1931
bulletO Homem que venceu o Mar (Patrão Joaquim Lopes), Faro, 1951
bulletCartas de Portugal para o Algarve, Vila Real de Sto antónio, 1951
bulletDo Logo de Olham à Vila de Olhão da Restauração, Lisboa, 1959
bulletAs Justiças de Olhão, Lisboa, 1966
bulletO Termo de Olhão, Olhão, 1974
bulletO Brasão de Armas da Vila de Olhão da Restauração,Olhão, 1974
bulletO poeta João Lúcio, Olhão, 1982
bulletA População Olhanense - sua origem e evolução, Olhão, 1983
bulletA Imprensa Periódica no Concelho de Olhão, Olhão, 1983
bulletHistória Breve da Vila de Olhão da Restauração, Olhão, 1984
bulletSubsídios para uma Bibliografia Olhanense, Olhão, 1985
bulletCronologia Geral da História de Olhão da Restauração, Olhão, 1986
bulletDoze Olhanenses que muito honraram a sua terra, Olhão, 1987
bulletHeróis Olhanenses de 1808, Olhão, 1988
bulletO Doutor Fernandes Lopes, Olhão, Separatas de "A Voz de Olhão", 1984

 

Interessou-se ainda pela história do santo S. Gonçalo de Lagos, tendo sido Director do Boletim do Grupo de Estudos Gonçalinos (1964-65) e publicado as seguintes obras:

bulletO Pescador que quis ser Monge e foi Santo
bulletO Túmulo de S. Gonçalo descoberto em Torres Vedras, Faro, 1961
bulletBreves Apontamentos sobre S. Gonçalo de Lagos e o seu culto, Faro, 1961
bulletS. Gonçalo de Lagos e o tempo presente, Lagos, 1978

 

Também grande admirador do escutismo, escreveu os seguintes títulos:

bulletO movimento escutista e o movimento desportivo, Lisboa, 1933
bulletO escotismo em Portugal, Queluz, 1933
bulletA vida maravilhosa de Baden-Powell, Entroncamento, 1937
bullet Escoteiro um dia, escoteiro toda a vida, Olhão, 1952
bulletO escotismo, sistema de educação integral, Faro, 1974

 

Foi redactor principal do Correio do Sul, de Faro, do Correio Olhanense e do O Olhanense.

Antero Nobre foi muito acarinhado pela população de Olhão, ainda em vida, tendo recebido em homenagem medalhas da autarquia em 1969 e em 1984, fazendo o seu nome parte da toponímica da cidade.

Quando faleceu, em 1997, com 87 anos, era Presidente da Assembleia Geral da Associação da Imprensa Regionalista Algarvia, Coordenador da Delegação de Olhão da Universidade do Algarve para a Terceira Idade e Vice-presidente do Clube Simpatia.

Após as sua morte, foi fundada em 1998 a associação de promoção cultural, Academia Antero Nobre.

 

António Paula Brito, 2013

Fonte:
bulletMarreiros, Glória Maria - Quem foi quem?: 200 Algarvios do Sec. XX - 1ªed. Lisboa: Colibri, 2000.
bulletTeodomiro Neto - Afinidades (6) -  Jornal "O Olhanense", 1-3-2003 .
bulletBarbosa, José - Visto e ouvido... em Olhão... reflexões - 1ª ed. Olhão: Câmara Municipal de Olhão, 1993