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Alberto Iria

Historiador e bibliotecário, nascido em Olhão no dia 27 de Dezembro de 1909 e falecido em Paço d'Arcos em Fevereiro de 1992.

Seu pai e avô eram gente de mar, pelo que foi com sacrifício que fez a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, que terminou em 1936 com a tese Subsídios para a História da Invasão Francesa no Algarve - 1808 e, posteriormente, faz o curso de Biblioteconomia e Arquivologia.

Trabalha primeiro na Biblioteca Nacional da Ajuda e posteriormente na Biblioteca e Arquivo da então Assembleia Nacional (1941-46) e, finalmente, no Arquivo Histórico-Colonial, mais tarde rebaptizado Arquivo Ultramarino, de que será director durante cerca de 30 anos.

Para dar uma ideia da competência que os seus pares lhe reconheceram, poderemos assinalar que Alberto Iria foi  membro efectivo tanto da Academia Portuguesa de Ciências (Secção de Letras), como da Academia Portuguesa da História (cadeira 22),  da qual foi também Presidente de Honra (1987). Aliás o seu nome foi dado à Sala de Honra da Academia Portuguesa da História.

Em 1952 foi secretário da Comissão Organizadora da Exposição Histórica do Ministério das Finanças  e, em 1954, organizador da Exposição Histórica Comemorativa do IV Centenário da Fundação de São Paulo, no Palácio Galveias, em Lisboa.

Recebeu o grau de comendador do Cruzeiro do Sul e foi condecorado pelo Governo do Estado de Pernambuco.

Para além de muitas publicações de interesse nacional que poderá aqui consultar, dedicou-se especialmente à investigação histórica do Algarve, sendo talvez mais conhecidas as seguintes obras:

bullet Um documento esquecido sobre a chegada ao Brasil do primeiro correio Marítimo de Portugal; in Anais -II Série - Volume 30; Lisboa, 1985
bulletDo Algarve ao Brasil no caíque de pesca 'Bom Sucesso' em 1808
bulletBreve notícia acerca da expansão e esforço colonizador dos pescadores olhanenses no Sul de Angola
bulletO Algarve sob o domínio dos Filipes
bullet A invasão de Junot no Algarve - Livro Aberto, Editores Livreiros Lda, 2004
bulletAs pescarias no Algarve (subsídio para a história)
bulletAlgarve e os Descobrimentos (dois volumes)
bulletAs caravelas do Infante e os caíques do Algarve
bulletO Algarve e a Ilha da Madeira no séc. XV
bulletDa importância geopolítica do Algarve na defesa marítima de Portugal nos séc. XV a XVIII
bulletCartas dos governadores do Algarve (1638-1663)
bulletOs arquivos municipais do Algarve e a Restauração
bulletUma fábrica de curtumes nos finais do séc. XVIII em Vila Real de S.to António
bulletAs relíquias do Remexido
bulletSão Gonçalo de Lagos (uma bibliografia manuscrita inédita do séc. XVII, em cópia do séc. XVIII por D. Fr. Aleixo de Meneses).
bulletO Algarve nas Cortes Medievais Portuguesas do Século XV: Subsídios para a sua história  Vol. I: 1401-1449.

Alberto Iria, embora sempre muito ligado a Olhão, porque exerceu a sua profissão em Lisboa, ainda hoje é mal conhecido na sua terra, muito embora a cidade lhe tenha prestado já algumas homenagens, nomeadamente a de dar o seu nome a uma Escola e a uma rua.

Fotografia retirada de Villares, João - Quem é quem em Olhão? - 1ª ed., 1º Vol., Livraria Clinar, Olhão, 2004

No entanto, Alberto Iria é o historiador que está por trás de quase tudo quanto é mais relevante para o conhecimento da História do Algarve e, concretamente, de Olhão!

Foi ele que encontrou o documento mais antigo que faz referência ao Logo de Olham (datado de 1378), foi ele que descobriu os nomes dos marítimos olhanenses que foram ao Rio de Janeiro avisar a Família Real portuguesa da derrota de Junot, foi ele que pediu ao ex- presidente da Câmara, João Bonança, para colocar o feriado municipal no dia da revolta olhanense (16 de Junho), etc. .

Aliás, pela leitura da sua vasta obra, continuamos a encontrar inúmeros outros esclarecimentos sobre o passado e, curiosamente, sobre o passado que ainda falta cumprir em Olhão… Efectivamente, pela consulta do seu trabalho Do Algarve ao Brasil no caíque de pesca “Bom Sucesso” em 1808, ficamos a saber que falta colocar um caíque em bronze no topo do monumento evocativo da revolta olhanense, existente no Largo da Restauração … desde 1931!

Também neste último trabalho ficamos a saber uma curiosidade interessante: terá sido Francisco Fernandes Lopes quem atribuiu a Olhão o epíteto de “Vila Cubista” e não Roberto Nobre ou José Dias Sancho, como outros referem.

Infelizmente, Alberto Iria desde sempre se habitou a trabalhar de forma profunda e exaustiva sem quaisquer apoios externos, públicos ou comerciais. Por exemplo, repare-se que a 1ª edição de um dos livros mais importantes que escreveu para o Algarve - A invasão de Junot no Algarve -, em 1941, foi paga pelo próprio, a 2ª edição em 2004 continuou sem apoios tangíveis, e a última edição electrónica, da APOS, não teve qualquer apoio!

Por outro lado, embora Alberto Iria discordasse do regime totalitário que vigorou em Portugal até 1974, atendendo ter feito carreira reconhecida como historiador nessa época e exercer funções de Director do Arquivo Ultramarino no momento da revolução do 25 de Abril, acabou por ser vítima dos excessos revolucionários, sendo saneado. Amargurado, solicitou a aposentação da Função Pública com graves penalizações pecuniárias, pelo que até ao final da vida viveu com algumas carências financeiras.

No site do Instituto Histórico de Petrópolis (Brasil) Lourenço Luiz Lacombe faz-lhe uma pequena homenagem que aqui se transcreve:

O correspondente Alberto Iria (que era o seu “nome de guerra”) entrou para o nosso Instituto em Setembro de 1963, por proposta deste que vos fala e mais de Francisco Marques dos Santos, Carlos Werneck, Hélio Viana, Pedro Calmon, Leão Teixeira e Luiz Afonso d’Escragnolle. Diziam seus proponentes tratar-se de “ilustre historiador portuquês, residente em Lisboa, onde exerce as altas funções de Diretor do Arquivo Histórico Ultramarino, em cujo cargo tem evidenciado o maior interesse na aproximação espiritual e cultural entre brasileiros e portugueses.

O relator da Comissão de História, o Prof. Paulo Machado da Costa e Silva, declara que “ a inscrição do Sr. Dr. Alberto Iria, como sócio correspondente é uma honra que muito pode envaidecer o nosso Instituto pelo valor de tão ilustre pesquisador”.

Nessas elevadas funções colaborou, da maneira mais eficiente com o nosso Congresso de História Fluminense, realizado em julho de 1963, e que motivou seu ingresso no Instituto.

A colaboração de Alberto Iria a esse Congresso representa um grande esforço de pesquisa, apresentando uma “Relação de alguns processos de concessão de cartas de sesmarias na Capitania do Rio de Janeiro entre 1661 e 1771 (...)”.

É um trabalho de fôlego, como pelo título se observa, realizado por um grupo de funcionários especializados daquele arquivo, devidamente orientados pelo ilustre Diretor, e elogiado e louvado pelo Relator da Comissão respectiva, o nosso saudoso confrade, historiador Enéas Martins Filho, que declara constituir “a contribuição do Arquivo Histórico Ultramarino (...) documento fundamental para o estudo da História Fluminense”. Essa contribuição de Alberto Iria ao nosso Congresso está publicada nos respectivos Anais.

Alberto Iria  nasceu em Olhão, distrito da capital do Algarve, a 27 de Dezembro de 1909. Cursou o Liceu - que é como chamam o curso secundário - na sua terra natal. Oriundo de família modesta, diz-nos o Prof. Viegas Guerreiro, num opúsculo no qual publicou o discurso proferido por ocasião de homenagem promovida pela Casa do Algarve, ao entregar-lhe solenemente o diploma de sócio honorário daquela instituição. Dessa publicação extraio os dados principais de sua biografia.

“Seu pai era homem do mar. Pescador, primeiro, mestre e dono de caíque, depois, que veio a afundar-se diante de Peniche”. Aperfeiçoou seus estudos com o Dr. Francisco Fernandes Lopes, que se comprazia em ensinar, sem preocupação de ganho ou retribuição. Daí voltou-se Iria à pesquisa histórica a que se dedicaria até o fim de sua vida. Cursou, por fim a Faculdade de Letras de Lisboa apresentando, no final do curso a tese A Invasão de Junot no Algarve, prefaciada pelo Conservador da Torre do Tombo, com palavras de apreço  e de compreensão pela precária situação econômica em que iria trabalhar.

Mas não era do feitio de Alberto  Iria ir em busca de cargos que lhe trouxessem recompensa pecuniária.

Da Torre do Tombo passou-se ao Arquivo Ultramarino onde alcançou  o posto de Diretor . Foi quando o conheci. Verdadeira ponte ou traço-de-união entre pesquisadores brasileiros e portugueses, lá os recebia a todos, fidalgamente - eu diria até humildemente, que é traço característico dos verdadeiros homens de ciência.

Providenciou minha ida a Vila Viçosa, Paço del Rei D. Carlos, que percorri em sua companhia, por delegação do Presidente da Fundação Casa de Bragança, que nos proporcionou um magnífico almoço num dia ensolarado mas sumamente frio.

Sempre procurava Alberto Iria quando tinha oportunidade de visitar Lisboa. Ainda da última vez que lá estive, fui recebido por ele e alguns amigos comuns no Centro Eça de Queiroz.

Pertenceu a várias associações culturais, como a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Portuguesa de História, e nesta ocupou vários cargos de Diretoria, chegando a presidi-la em certa época. Entre nós era correspondente do colendo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e nos honrava, a nós, do Instituto Histórico de Petrópolis, como seu prestigioso nome.

Do opúsculo a que me referi no início, tiro estas palavras finais:

“Não correu atrás de riquezas nem de ostentações. Nasceu pobre e pobre viveu. Pai amantíssimo, avô carinhoso, hoje quase só, em companhia da esposa, ralado de desgostos, de ingratidões, de desilusões, como a de não ver cumprida na terra portuguesa a justiça social cristã, com que sempre sonhou.

No dia 28 de Novembro de 2009 a APOS fez uma homenagem à memória de Alberto Iria, na Sociedade Recreativa Olhanense, a propósito do 1º  Centenário do seu nascimento, com a colaboração e presença da Academia Portuguesa da História (presidente Prof.ª Dr.ª Manuela Mendonça), dos historiadores Dr. Teodomiro Neto, Dr. José António Martins e Conceição Pires, a família do homenageado, o representante do Governo Civil, da Casa do Algarve e do agrupamento Vertical das Escolas Alberto Iria.  (ver video aqui)

Fonte:
bulletMarreiros, Glória Maria - Quem foi quem?: 200 Algarvios do Sec. XX - 1ªed. Lisboa: Colibri, 2000.