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A Lenda do Menino dos Olhos Grandes
Diz-se que o menino apareceu primeiro no Bairro da Barreta, numa altura em que Olhão era uma terra de muitos contrabandistas. Naturalmente não lhes convinha encontrarem nas ruas à beira-mar, a Guarda-Fiscal ou mesmo outras pessoas quando, fora de horas, traziam sacos de contrabando descarregados nas praias escondidas.
Dizia o povo que tudo começou numa noite intensa, em que as gentes do Largo do Carolas viram por volta da meia-noite uma criança arrumada a um cantinho, com um cesto de vime num braço, vestido com uma camisinha e um gorro vermelho na cabeça. Como nas noites seguintes a criança voltou a aparecer, uma mulher mais atrevida foi junto dela para observá-la melhor: era um menino baixinho, reboludo e de olhos grandes. Encostou-o à parede com grande custo para que ficasse mais protegido, depois tentou levantá-lo mas a criança tinha um peso bruto, acabando por deixá-lo e voltar para casa sobre o olhar surpreendido de todos.
Começou então a dizer-se que em Olhão havia um menino encantado e logo que a noite chegava, a maioria das pessoas já não saiam de casa com medo do encanto, até porque segundo alguns, só com o olhar este menino podia matar uma pessoa.
Este encanto começou a aparecer também no Bairro do Levante, e acabou por se tornar mais comum junto à chamada Fábrica Velha (antiga Fábrica Delory, perto do actual “T”).
A verdade é que geralmente ele era visto apenas por marítimos solitários e sempre com grandes bebedeiras. Estes contam que ao verem o menino a chorar, pegavam-lhe ao colo, condoídos. O problema era sempre que os carinhos não paravam o choro do menino, e este ia pesando cada vez mais, até que o marítimo o deixava cair no chão. Nesse momento, de súbito, a criança desaparecia por encantamento.
António Paula Brito
Fonte:
Conceição Pires - Elucidário, Cidade de Olhão da Restauração - 1ª ed. da autora, 2001, p.176. |
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