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O João Cagaia
O João Cagaia foi uma figura muito castiça e conhecida dos meios piscatórios em Olhão.
Num dia de Verão muito quente, na Lota, onde hoje atracam os barcos que fazem as carreiras para as ilhas, o movimento era grande porque as pescas tinham sido boas.
Isto implicava também que havia muito movimento na cabine telefónica que ali existia, justamente para o serviço dos compradores e vendedores da Lota.
Cada fábrica de conservas tinha um comprador de peixe e este tinha os seus ajudantes que lhes eram muito úteis em dias como aquele, de muito movimento. João Cagaia era ajudante a trabalhar para a fábrica Sardinha do Algarve, a qual já tinha comprado todo um barco de peixe e também já tinham pedido que lhes mandassem o sal para o salgar, ainda no barco, antes de o começarem a enviar em carroças para a fábrica.
Como o sal não chegava, o comprador já preocupado com a demora, pediu ao mano João que telefonasse para a fábrica a saber o que se passava, pelo que lhe entregou a senha necessária para entregar ao fiscal da Lota, e assim poder usar a cabine telefónica. Nesse tempo, nada era automático e tínhamos que pedir o número desejado a uma telefonista. E assim o João Cagaia deu à manivela, ouviu a voz feminina a perguntar-lhe o número e respondeu: "Dê-me o dôs cinco, menina, e depressa!" (porque a fábrica tinha o número 25).
A telefonista ligou-lhe para o 55, que era o número do célebre advogado Carlos Fuzeta. Este pergunta: "Tá? Quem fala? Aqui Fuzeta..."
E o João Cagaia, irritado com a demora do sal, grita: "Fuseta ou Moncarapacho! Não mandes daí o sal não... qu'o peixe ainda apodrece todo!"
Baseado em artigo publicado por Leal Branco n'O Olhanense de 15 de Abril de 2007
António Paula Brito, 2007