O Amaro, o Azeite, e o Nosso Senhor dos Aflitos
O Amaro era um marítimo que nos seus últimos anos ganhava a vida apanhando as "cascas" do choco que geralmente era desperdiçado por todos. Certo é que estas "cascas" depois de moídas eram comercializadas.
O Amaro era também muito religioso e todos os dias ia ao Senhor dos Aflitos (nas traseiras da Igreja Grande) rezar. O sacristão, que gostava de fazer partidas aos mais simples como o Amaro que lá iam rezar, resolveu um dia brincar com ele.
Assim, ficou à espera que ele lá chegasse e começasse com os seus pedidos íntimos ao Senhor.
Quando este terminou e voltou as costas para se ir embora, o sacristão escondido por trás do Senhor dos Aflitos, fazendo voz de alma-do-outro-mundo diz:
- Vê lá se prá próxima trazes um litrinho de azeite!
Lembro que na época o azeite era utilizado tanto para fritar ou temperar alimentos, como para a iluminação, em lamparinas próprias, pois não era comum a eletricidade. Era por isso frequente, os fiéis fornecerem o azeite para iluminação do "Senhor dos Aflitos".
O Amaro voltou-se espantado com a voz do outro mundo, olhou para o Senhor dos Aflitos e respondeu:
- Entãããã, Senhor? Nãa me digas que também t'ofereceram uma teca cheia de peixe p'ra fritar!...
© António Paula Brito de Pina - 2006