Fortalezas
Foram construídas várias Fortalezas para defesa da Ria Formosa. No concelho de Olhão as mais importantes foram as duas Fortalezas para a defesa da antiga Barra de Olhão, atual Barra Velha, entre a ilha da Culatra-Farol e ilha da Armona:
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Foto orientada de SE-NW: vê-se Olhão à esquerda e a ilha da Armona à direita; a barra velha fica no extremo direito (dia 11-10-2006) |
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Foto orientada de W-E: vemos um canhão (apontado para nós) e à frente uma lage de pedra redonda. No horizonte está a ilha da Culatra (dia 11-10-2006)
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Foto orientada de N-S: dois canhões apontando para a Barra velha, limitada à esquerda pela ilha da Armona e à direita pela ilha da Culatra (dia 11-10-2006) |
Desde 2006, esta Fortaleza tem sido alvo de investigação arqueológica pelo Centro de Estudos do Património da Universidade do Algarve (Dr. Mário Rodrigues Ferreira). Neste âmbito, a maquete seguinte foi construída pelos arqueólogos Hugo Oliveira e Magda Gonzaga:
A Fortaleza da Armona foi edificada em 1747, na ponta oriental da Barra, mas com o terramoto de 1755 e a deslocação da barra para levante, devido às correntes costeiras predominantes, rapidamente ficou inativa. Em 1808, durante a sublevação dos olhanenses contra os franceses, alguns marítimos olhanenses vieram aqui roubar armas para o levantamento. Ao que parece existiria ainda uma segunda fortaleza na Armona no enfiamento do atual Restaurante dos Belgas, que teria sido construído na Guerra da Restauração (1640-1668) e cujas ruínas ainda eram perceptíveis na década de 1960.
Além destas fortalezas na Barra Velha de Olhão, foram ainda construídas fortalezas na Barreta, Barra Nova e a Fortaleza da Barra da Fuzeta. Esta última, segundo testemunho do padre de Moncarapacho, datado de 1758, ficava defronte à barra e tinha um canhão e uma guarnição de um artilheiro e quatro soldados vindos de Tavira. Desconhecemos quando foi construída e abandonada. Parece ter havida uma outra fortaleza na praia da Fuzeta, construída na Guerra da Restauração (1640-1668), cujas ruínas ainda podiam ser vistas em 1945, de acordo com um relatório do General João de Almeida.
António Paula Brito
Bibliografia:
D’Athaide Oliveira, Francisco Xavier - Monografia do Concelho de Olhão da Restauração - 1906 | |
Gomes, João Honrado - As Fortificações do Concelho de Olhão - Jornal "O Olhanense", 1-9-2006 | |
Nobre, Antero - História Breve da Vila de Olhão da Restauração, Olhão, Ed. O Sporting Olhanense, 1984 | |
Passos, José Manuel Silva - O Bilhete Postal Ilustrado e a História Urbana do Algarve - Caminho, 1995 | |
Teodomiro Neto - Quem "descobriu" a Fortaleza de S. Lourenço? - Jornal "O Olhanense", 1-5-2006 |
Visualização do documento "Fortificações do Algarve", por Baltasar de Azevedo Coutinho, capitão do Real Corpo de Engenheiros
Torres de Vigia ou Atalaias em Olhão
Estas torres são uma linha de estruturas modestas (a maior parte desaparecida, ou em vias de desaparecer), cuja maior concentração se encontra, atualmente, no território de Olhão. Algumas poderão ter tido origem islâmica, a maioria terá sido construída após a reconquista cristã para vigiarem a costa contra os ataques de piratas provavelmente até ao séc. XVIII. No século XIX, em 1841, João Baptista Silva Lopes refere na sua "Corografia ou memória económica, estatística e topográfica do Reino do Algarve" que todas estas torres encontravam-se já em ruínas.
Confrontadas as regiões ribeirinhas com os constantes ataques muçulmanos, a necessidade de se efetivar a segurança das populações determinou a ereção destas estruturas, cujo caráter essencialmente de vigia está bem espelhado na relativa modéstia dos seus programas construtivos.
Em todo o caso, o recurso a este modelo foi uma solução de certo sucesso, pois são ainda visíveis, um pouco por toda a costa meridional, de Tavira a Lagos, torres circulares e quadrangulares, de sistema construtivo e aspecto geral muito parecidos.
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Torre de Marim Após a expulsão dos árabes do Algarve, no séc. XIII, Marim era o povoamento mais importante da região que, aliás, poderá estar associada à origem de Olhão, tanto por ter sido o primeiro ponto de fixação humana na região, como por ter um grande olho de água doce e que poderia ter dado origem ao topónimo de Olhão. Aqui apareceu uma quinta que foi morgadio desde o reinado de D. Diniz, tendo-se iniciado a construção duma torre em 1282. Sabe-se que a quinta e a torre nela incluída pertenceram à família Arrais de Mendonça, entroncada mais tarde com a família dos Côrte-Reais. Atualmente pertence aos herdeiros do Dr. João Lúcio Pousão Pereira. Foi desde sempre uma rica empresa agrícola, atendendo à fartura de água da sua nascente, o que aliás está relacionado com a bonita Lenda da Moura de Marim. A Torre foi muito danificada pelo terramoto de 1755 e, por isso, foi mandada demolir e reconstruída menos elevada pelo então administrador. Presentemente é difícil identificar os restos da torre, porque esta foi posteriormente rodeada por outros edifícios (na fachada Sul e Oeste). Esta torre é actualmente a única que serve de habitação particular, pelo que tem de se pedir autorização para ser visitada. O imóvel tem planta quadrangular com 10 metros de lado e de altura, apresenta dois pisos e um terraço, sendo o térreo maciço. É uma construção de alvenaria cujas paredes têm uma espessura de 1,2 metros, com grossos silhares de pedra nos cunhais. No alçado orientado a nascente, lápide fundacional regista “Era de 1320” (1282), anexa uma segunda lápide com as armas régias. Estas armas régias são das mais antigas do Algarve e tem grande valor arqueológico «quer pela sua raridade, quer muito especialmente por ser o único brasão das armas portuguesas (...) que nos apresenta os escudetes com um número de besantes quase igual ao do sinal de D. Afonso Henriques» (transcrito de Antero Nobre). Há ainda um fuste romano incrustado. |
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Torre de Bias I É a única torre que no concelho está em vias de classificação patrimonial. Parece ter surgido num momento já tardio. Uma inscrição identificada no local, mas infelizmente desaparecida, (a que se associava uma representação das armas reais) continha a data de 1549 e uma alusão ao rei "JOANNES III", indicação clara quanto à existência de uma campanha de obras nesta altura, responsável pela edificação (ou substancial transformação) da torre. A torre possuía a entrada principal a Norte. Infelizmente, o estado de grande degradação a que chegou, impossibilita a correcta identificação de pisos. Embora existam ainda linhas de cornijamento pelas paredes, a verdade é que é impossível perceber a organização vertical da estrutura, bem como a configuração dos pavimentos e, logicamente, a forma da cobertura. A parte Sul é a melhor conservada, com uma secção de parede que se eleva a mais de 7 metros de altura, mas o interior, por exemplo, encontra-se totalmente entulhado, a uma altura de praticamente 5 metros. Os últimos dois séculos foram particularmente gravosos para esta torre. Sem qualquer plano de intervenção ao longo dos anos, chegou até hoje em estado de quase ruína. Todavia, permanece como um dos mais importantes testemunhos de vigia-defesa da costa. Está também associada à lenda da moura de Bias. |
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Torre de Bias II Completamente arruinada e bastante escondida entre os arbustos, destaca-se por se encontrar num local alto de grande beleza paisagística, sobranceira ao Canal da Regueira dos Barcos. Encontra-se a cerca de 1 Km para Ocidente da Torre de Bias I, e a sua construção pode mesmo recuar à época islâmica, uma vez que a prospecção aqui efetuada identificou algum material deste período.
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Torre de Quatrim Planta quadrangular simples, com três pisos e um terraço. Fachada principal a Sul, parte superior destacada por um friso com duas gárgulas, várias seteiras e dois pequenos orifícios. O nível da cobertura é marcado por um friso que envolve todo o edifício. Sobre o mesmo existe um murete que seria ameado. São visíveis quatro goteiras e quatro seteiras. Fachada Norte em ruína apresentando apenas pequeno muro junto ao solo. Fachada Este com friso e vestígios do paramento que a constituía. Fachada Oeste cega com pequeno friso superior. No interior são visíveis pequenos orifícios correspondentes aos apoios da estrutura dos pavimentos correspondentes a pelo menos três pisos, embasamento saliente. O imóvel terá, possivelmente, desempenhado funções de habitação de um dos primeiros senhores cristãos encarregues do senhorio e povoamento da zona (segunda metade do século XIII, inícios do século XIV) 1328 é a data provável da construção, por D. Dinis, segundo lápide outrora existente na face Sul, referida por José Almeida (1947). É uma torre de alvenaria com reboco, distinta das outras pela sua planta quadrada e por isso também merecia obras de conservação, apesar de ser presentemente propriedade particular. |
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Torre da Amoreira Torre de vigia, muito perto de Belo Romão, pertencente a um grupo maior que faria toda a vigia da costa a sul. De planta retílinea, composta por muro único com espessura de 0,60 m. Serve atualmente de muro separador entre uma propriedade e um caminho.
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Torre de Aires |
Torre de Aires Vemos à esquerda a forma como os vigilantes subiriam para cima (através de um cabo ou escada que depois recolhiam). À direita temos um aspecto do interior da torre com o cabo enlaçado. Trata-se de um bom exemplo de valorização do património efetuado em 1996 pelo Ministério do Ambiente e o ICN/Parque Natural da Ria Formosa. Em Julho de 2000 foi também alvo de arranjo paisagístico da zona envolvente. O acesso é fácil porque está sinalizado por uma placa na EN 125, entre a Fuseta e Tavira, à direita, na Ria Formosa. |
Outras torres como a de Alfanxia, Quelfes, e Cumeada, todas elas no atual concelho de Olhão, não as conseguimos ainda identificar.
Segue um vídeo sobre estas torres ou atalaias:
Bibliografia: