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Cão de Água do Algarve

A - Breve resumo histórico

Existem várias teorias acerca da origem desta raça.

Em toda a bacia Mediterrânica, o cão era usado pelos pescadores na sua actividade, dando origem às diferentes raças de cães de água, hoje existentes.

É natural, que um desses cães tivesse chegado a Portugal, através das viagens marítimas, iniciando-se assim, a criação do Cão de Água Português.

No passado encontrava-se com frequência no litoral sul, predominantemente na costa Algarvia.

A mais antiga referência a esta raça portuguesa é um relato de um monge português feita em 1297 que descreve a forma como um cão terá salvo o seu dono pescador da morte por afogamento: " ... um cão de pelo comprido e preto, cortado à leão, com uma cauda comprida e uma melena de pelo na ponta... "

No entanto, entre os Romanos ele já era conhecido com o nome de "cão leão" devido ao corte de pêlo, já nessa época praticado.

Em 1923 no seu livro "Os Pescadores", e a respeito da faina do alto, dos caíques de Olhão, Raul Brandão refere-se a esta raça de cães da seguinte maneira: " tripulavam-no 25 homens e dois cães, que ganhavam tanto quanto os homens. E mereciam-no. Era uma raça de bichos peludos, atentos um a cada bordo e ao lado dos pescadores. Fugia o peixe ao alar da linha, saltava o cão no mar e ia agarrá-lo ao meio da água, trazendo-o na boca para bordo."

Por esta e por outras há quem considere que o cão de água do Algarve é no fundo... um cão de água de Olhão! Penso que a verdade é que este cão existiria um pouco por todo o lado onde houvesse pesca no Algarve e, porque em Olhão havia muita pesca, haveria seguramente uma grande concentração destes cães...

Aliás, em épocas muito remotas o cão de água teve o seu solar em todo o litoral português, pelo que deve ser considerado uma raça nacional.

 Esta mesma raça seria referida em 1981 no "Guiness Book of Records" como sendo a mais rara do mundo... o que, mesmo a não ser verdade, chamou a atenção de muita gente para esta raça extraordinária de cães pescadores, corajosos e dóceis, inteligentes e combativos, afectuosos e alegres.

 

B - Quais são as aptidões do cão de água?

No princípio do século, o Cão de Água era de facto uma peça indispensável no equipamento dos nossos barcos de pesca, não só nos caíques, mas também nas traineiras.

Com a sua conhecida bravura e lealdade estava pronto e atento aos movimentos dos pescadores, recuperando o peixe que se desprendia dos anzóis, algum objecto que caía dos barcos, rodeando as redes dentro de água também a impedir fugas... Diversos relatos existem de salvamento de homens caídos ao mar, pois não era tão frequente como hoje os pescadores saberem nadar.

O Cão de Água tinha uma papel importante na guarda dos barcos e das aparelhagens da pesca, e é de referir ainda a sua utilização na entrega de mensagens entre os barcos e a terra.

O lugar do Cão de Água entre as populações ribeirinhas portuguesas (normalmente a sul de Lisboa e na costa Algarvia) ficou bem testemunhado por alguns factos: por exemplo, os Cães de Água, apesar do seu valor, nunca eram vendidos de pescador a pescador: quando muito eram dados! Além disso, os cães tinham direito a um quinhão de peixe e a um soldo diário que equivalia a um quinto do soldo de um homem, e estavam confiados a um dos homens da tripulação, que tinha o encargo de o alimentar e cuidar, administrando esse dinheiro.

Hoje em dia, ainda que a sua destreza não seja explorada ao máximo, em alguns lugares continua a ser utilizado para pescar, mas na realidade a sua função como cão de companhia tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos, pelo que corre o mesmo risco que outras raças que perderam a sua funcionalidade quando começaram a ter honras de permanecer junto das saias das camilhas. E isto porque o advento das tecnologias modernas de pesca e de comunicação iria tornar cada vez menos necessário o cão na embarcação.

As campanhas nem sempre podiam suportar os encargos de manutenção de um cão que se tomara supérfluo.

 

C - Estalão da raça aprovado pelo CLUBE PORTUGUÊS DE CANICULTURA:

 

I- Cabeça

 Bem proporcionada, forte e larga.

  1. Crânio - Visto de perfil o seu comprimento predomina levemente sobre o chanfro. A sua curvatura é mais acentuada posteriormente e a crista occipital é pronunciada. Visto de frente os parietais têm a forma abobada com leve depressão central, a frente é ligeiramente escavada, o sulco frontal prolonga-se até dois terços dos parietais e das arcadas supra-ciliares são proeminentes.
  2. Chanfro - Mais longo na base que na extremidade. A chanfradura nasal é bem definida e situada um pouco atrás do canto interno dos olhos.
  3. Narinas - Largas, abertas e de fina pigmentação. De cor preta nos exemplares de pelagem preta, branca e suas combinações. Nos acastanhados, a cor segue a tonalidade da pelagem, mas nunca deve ser almarada.
  4. Beiços - Fortes especialmente na parte da frente. Comissura não aparente. Mucosa bocal ( céu da boca, debaixo da língua e gengivas ) acentuadamente pigmentada de preto.
  5. Maxilas - Fortes e correctas.
  6. Dentes - Bons e não aparentes. Caninos fortes e desenvolvidos.
  7. Olhos - Regulares, aflorados, arredondados, afastados e levemente oblíquos. A coloração da íris é preta ou castanha e nas pálpebras, que são finas, orladas de preto. Conjuntiva não aparente.
  8. Orelhas - Inserção acima da linha dos olhos, colocadas contra a cabeça, levemente abertas para trás e cordiformes. Leves e a sua extremidades nunca ultrapassa a garganta.

  

II - Tronco 

  1. Pescoço - Direito, curto, redondo, musculado, bem lançado e de porte alto, ligando-se ao tronco de uma forma harmoniosa. Sem colar nem barbeia.
  2. Peito - Largo e profundo. O seu bordo interior deve tocar o palmo do codilho. As costelas são compridas e regularmente oblíquas, proporcionando grande capacidade respiratória.
  3. Garrote - Largo e não saliente.
  4. Dorso - Direito, curto, largo e bem musculado.
  5. Lombo - Curto e bem unido à garupa.
  6. Garupa - Bem conformada, levemente inclinada; ancas simétricas e pouco aparentes.
  7. Cauda - Inteira, grossa à nascença e de fina terminação. Inserção média. O seu comprimento não deve ultrapassar o curvilhão. Na atenção enrola-se em óculo, não indo além da linha média dos rins. É um precioso auxiliar na natação e mergulho.

 

III - Membros anteriores

 Fortes e direitos.

  1. Espádua - Bem inclinada de perfil e transversalmente. Forte desenvolvimento muscular.
  2. Braço - Forte e de comprimento regular. Paralelo à linha média do corpo.
  3. Antebraço - Comprido e de forte musculatura.
  4. Carpo - Forte ossatura, mais largo de frente que de lado.
  5. Metacarpo - Longo e forte.
  6. Mão - Arredondada e espalmada. Dedos poucos arqueados, de comprimento médio. A membrana digital, que acompanha o dedo em todo o seu comprimento, é constituída por tecidos flácidos e guarnecida por abundante e comprida pelagem. As unhas pretas são as preferidas, mas, segundo as pelagens, Também são admitidas as brancas, raiadas ou castanhas. Unhas levemente afastadas do solo. Sola rija no tubérculo plantar e de espessura normal nos tubérculos digitais.

 

IV - Membros posteriores

 Bem musculados e direitos.

  1. Coxa - Forte e de regular comprimento. Muito bem musculada. A rótula não se afasta do plano médio do corpo.
  2. Perna - Comprido e muito bem musculada. Não se afasta do plano médio do corpo. Bem inclinada no sentido antero-posterior. Toda a estrutura ligamentosa é forte.
  3. Nádega - Comprida e de boa curvatura.
  4. Tarso - Forte.
  5. Metatarso - Comprido. Nunca há suplementares.
  6. Pés - Em tudo idênticos às mão.
  7. Aprumos - Os aprumos dos membros anteriores e posteriores são regulares. Admitem-se os membros anteriores levemente estacados o os posteriores um pouco acurvilhados.

 

V - Pelagem

Todo o corpo encontra-se abundantemente revestido de pêlo resistente.

Há duas variedades de pelagem: uma comprida e ondulada e outra mais curta e encarapinhada.

A primeira variedade é ligeiramente lustrada e fofa, a segunda atochada, baça e reunida em mechas cilindriformes. À excepção dos sovacos e virilhas os pêlos distribuem-se por igual em todo o tegumento. Na cabeça tomam o aspecto de trunfa na pelagem ondulada, e de carapinha na outra variedade. O pêlo das orelhas adquire maior comprimento na variedade de pelagem ondulada.

 A coloração da pelagem é simples ou composta: na simples existe o branco, preto e castanho nas suas tonalidades; na composta existe misturas de preto ou castanho com branco.

A pelagem branca deve existir sem albinismo, pelo que as ventas, bordos palpebrais e interior da boca devem ser pigmentados de negro.

Nos exemplares onde entram as cores preta e branca a pele é ligeiramente azulada. Pelugem não tem.

É costume nesta raça fazer a tosquia parcial da pelagem, quando esta se torna muito comprida. A metade posterior do corpo, o focinho e a cauda são tosquiados, ficando todavia nesta uma pequena borla na ponta.


Vilamoura de Cristalmar: campeã brasileira  do Canil Cristalmar, propriedade do ex-criador José Fontes, Rio de Janeiro, Brasil

 

 

VI - Altura

Nos machos a altura típica é de 54 cm, admitindo - se à classificação um mínimo de 50 cm e um máximo de 57 cm.

Nas fêmeas a altura deve ser de 46 cm, com o mínimo respectivamente de 43 e 52 cm.

 

VII - Pesos

 O peso deve variar entre 19 e 25 kg nos machos e entre 16 e 22 kg nas fêmeas.

 

VIII - Andamentos

Movimentos desembaraçados, passo curto, trote ligeiro e cadenciado, galope enérgico.

 

IX – Defeitos

 Desqualificações: 

  1. Cabeça - Muito longa, estreita, chata e afilada.
  2. Chanfro - Muito afunilado ou pontiagudo.
  3. Maxilas - Prognatismo em qualquer das maxilas.
  4. Olhos - Gáseos, claros, desiguais na forma ou no tamanho, muito salientes ou muito encovados.
  5. Orelhas - Má inserção, muito grandes, muito curtas ou dobradas.
  6. Cauda - Amputada, rudimentar ou não existente, pesada, caída na acção ou erecta perpendicularmente.
  7. Pés - Existência de presunhos.
  8. Pelagem - Albinismo, narinas amaradas no todo ou em parte, pelo diferente dos tipos descritos.
  9. Corpulência - Gigantismo ou nanismo.
  10. Surdez - Congénita ou adquirida.