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Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão

OLHÃO PARA O CIDADÃO

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Outro documento esquecido sobre a chegada ao Brasil do caíque Bom Sucesso

 

Continuando a homenagear Alberto Iria, através da divulgação da informação histórica por ele encontrada sobre a História de Olhão expomos aqui um documento oficial, encontrado no arquivo histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e que extraímos do seu artigo “Um documento esquecido sobre a chegada ao Brasil do primeiro correio marítimo de Portugal em 1808”.

Este documento encontra-se entre outros na nossa página da internet em www.olhao.web.pt. Chamamos a atenção que também já fizemos a divulgação de todos estes documentos por carta não só às Escolas como à própria Comissão das Comemorações, nomeada pela Câmara Municipal.

Segue o documento sobre a chegada ao Brasil do caíque Bom Sucesso:

 

«Foi o portador destas ditosas esperanças um Caíque do Algarve que inopinadamente se dirigiu à barra deste Porto do Rio de Janeiro no dia [22] de Setembro arvorando Bandeira Portuguesa, aparição que causando uma geral satisfação e alegria se fez logo mais viva e mais sensível vendo-se desembarcar de uma desusada embarcação em viagens de tão longo curso, um grande número de Algarvios condecorados com o distintivo de uma fita e laço encarnado no braço esquerdo publicando a restauração do Reino do Algarve pela expulsão dos franceses. Conduzidos a presença de Sua Alteza Real o Príncipe Regente que os recebeu com demonstrações de grande satisfação, e com aquela Benevolência e Benignidade com que acolhe sempre os Seus fiéis Vassalos apresentaram aquele Senhor os Papéis de que vinham encarregados (…).

Foi pois pela Carta do Bispo escrita a Sua Alteza Real na data de 2 de Julho, pela Participação do Supremo Conselho do Reino do Algarve, pela Carta da Câmara de Faro e da do Real Compromisso do Lugar de Olhão que constou a Sua Alteza Real que fora naquele Lugar e no dia 16 de Junho que se dera o primeiro impulso à fidelidade e valor Português comprimido pelas extorsões e violências cometidas pelos Franceses em quanto ocuparam aquele Reino, sucedendo, no acto de mandarem estes afixar um Edital, achar se ali presente o fiel e valoroso José Lopes de Sousa que tinha sido Governador de Vila Real; que indignado pela nova violência que os Franceses queriam praticar obrigando os Algarves a fazer uma diversão atacando os Espanhóis pela parte de Ayamonte, arrancando ele mesmo o Edital exclamou Que já não haviam Portugueses resolutos que ele se oferecia para conduzir os que quisessem libertar a Pátria e sacudir o jugo estranho, animados os habitantes por esta exortação correram sobre os Franceses, que se retiraram para Faro deixando alguns mortos e feridos e 58 prisioneiros. Irresoluta a Governança de Faro procurou induzir os de Olhão a que se submetessem e se retirassem para suas casas, mas persistindo estes últimos constrangeram por um tal exemplo de perseverança os de Faro a que dessem iguais provas de valor e fidelidade, que os determinaram a atacar os franceses obrigando-os a evacuar o Algarve, donde passaram depois a Cidade de Beja em que saciaram a sua cruel vingança incendiando parte da Cidade, saqueando os habitantes, violando as mulheres, e as religiosas nos Conventos e cometendo actos de atrocidades próprios dos tempos da mais horrível barbaridade.

A importância destes grandes acontecimentos e a consideração de que eles mereciam a mais séria atenção por ser indispensável tomar sem perda de tempo medidas eficazes e dar providências prontas e acertadas, fez lembrar a Sua Alteza Real a propriedade de convocar a Seu Conselho de Estado, e na conformidade das Reais determinações foram avisados os Conselheiros para se acharem no Paço as 10h30 da manhã de 21 do presente mês de Setembro, e reunidos todos na Real Presença abriu a Sessão D. Rodrigo de Sousa Coutinho como Relator, por ser o Negocio da Sua Repartição, lendo um papel fraseado em que depois de um sucinto e por estremo abreviado resumo do que se havia praticado no Algarve, ocultando a Correspondência e mais Papeis autênticos recebidos daquele Reino que se não produziram propunha a necessidade de formalizar uma Proclamação aos Portugueses, louvando a energia e fidelidade com que se haviam comportado no glorioso empenho da restauração da Monarquia exortando-os a prosseguir com igual fervor, animando-os com a esperança do regresso de Sua Alteza Real e da sua Real Família, começando por lhes prometer a próxima chegada do Senhor Infante D. Miguel ou do Senhor Infante D. Pedro Carlos, acabava por fazer-lhes esperar avultados socorros que El-rei da Bretanha, fiel Aliado de Sua Alteza Real, devia fornecer generosamente (…)».

António Paula Brito

Presidente da
APOS (Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão)