Doc. 66

 

[Carta do Príncipe Regente ao Marquês de Olhão][1]

 

 

Il.mo e Ex.mo Sr.

 

 

Honrado Marquês Monteiro Mor, Amigo. Eu o Príncipe Regente vos envio muito saudar, como aquele que amo e prezo. Foi para o meu Real Ânimo a mais doce Consolação ver a fidelidade e amor com que vós levantastes todo o Reino do Algarve, principiando em Olhão, e continuando em Faro, contra a opressão e tirania dos franceses; e com um zelo e fidelidade mui louvável reivindicastes os Sagrados e imprescriptíveis direitos da Minha Real Família, restaurando a Monarquia, que por Sete Séculos havia feito a felicidade dos Povos, e cuja memória lhes era tanto mais doce, quanto a dureza e violação de todos os direitos pelos franceses lhes deixava bem conhecer a triste Sorte que os esperava. Aos membros da extinta Junta, que se erigiu para o Governo daquele Reino, fareis saber, que chegou à Minha Real Presença a conta de 5 de Julho do ano passado, em que me participavam este feliz Sucesso, e os louvareis no meu Real Nome pelo zelo e fidelidade com que serviram e mostraram nas acertadas providências, que deram sobre tão importante objecto e que merecerão a minha Real aprovação.

Escrita no Palácio do Rio de Janeiro em 2 de Janeiro de mil oitocentos e nove.

Príncipe


 

[1]       Uma cópia manuscrita desta carta pode ser encontrada no Arquivo Histórico Militar (com a cota DIV-1-14-169-019, fls. 13-14).

         Esta foi a primeira carta que, do Brasil, o príncipe regente enviou a D. Francisco de Melo, conde de Castro Marim, e agora Marquês de Olhão. De facto, apenas alguns dias antes, o monarca tinha criado esse último título, outorgando-o a D. Francisco de Melo pelo seu papel na revolta do Algarve. Dever-se-á referir que o documento que o príncipe regente chama de “conta de 5 de Julho” é a carta que o governo regente do Algarve (chefiado pelo conde de Castro Marim) enviou ao monarca no caíque Bom Sucesso (ver Doc. 161 de A Invasão de Junot no Algarve). O príncipe regente confirmava e reconhecia, através desta carta aqui reproduzida, a legitimidade do governo do Algarve e as medidas que este tomara.

Transcrição e anotações de Edgar Cavaco