(TRADUÇãO do francês)

 

Doc. 49

 [Comunicado de Lagarde com notícias sobre o Algarve][1]

 

Boletim n.º14

 Lisboa, 15 de Maio de 1808

 Faro

 O Corregedor Mor dos Algarves escreveu-me, em data de 11 de Maio, que essa província goza duma grande tranquilidade e que o espírito dos seus habitantes é bom; e que lhe será fácil indicar-me rapidamente os poucos maliciosos que possam desejar a desordem.

Encontrou ele, sobre a costa do mar perto de Albufeira, algumas arcas contendo papéis pertencentes ao governo de Havana.

Estas arcas parecem ter permanecido muitos dias no mar. Fizemo-las secar para transportá-las para Lisboa.

Entre esses papéis, estão alguns relativos às inteligências do Príncipe da Paz com a Inglaterra; donde se pode conjecturar, no estado actual das coisas, que depois dos escritos arribarem como se fosse de propósito, talvez não venham da América; mas se fossem lançados além do mar na Espanha, assegurava-se que abordassem à costa de Portugal; e que vinham do outro lado, ao seu destino.

Foi ao Secretário de Estado, Mr. Hermann, que o Corregedor Mor dos Algarves enviou estas arcas.

 

[1]       Segundo este comunicado, no dia 11 de Maio de 1808, Mr. Goguet, Corregedor Mor do Algarve, tinha escrito a Lagarde dando notícias da tranquilidade do povo algarvio face ao governo francês. Percebe-se que Goguet via com grande optimismo o que se passava à sua volta, e certamente terá sido apanhado de surpresa quando, um mês depois, com o General Maurin doente ao ponto de não poder sair da cama, ouviu as primeiras notícias sobre a revolta olhanense, a pouquíssima distância da cidade de Faro, onde estavam. E isto somado ao facto de que, com tanta suposta tranquilidade, os franceses tinham feito transportar a maioria das suas tropas destacadas no Algarve para junto do Guadiana, para impedirem que a revolta espanhola transbordasse para fora da fronteira espanhola. Goguet afirmara ainda a Lagarde, no mesmo dia, que tinha encontrado uns papéis que revelavam supostas relações entre os ingleses e o Príncipe da Paz, o espanhol Manuel Godoy. Mas o astuto Lagarde, neste comunicado aqui transcrito (possivelmente dirigido a Junot), suspeitava que a origem dos ditos papéis fosse espanhola e não cubana, como passavam por ser. A suspeita de Lagarde prende-se talvez por este ser então um recurso bastante vulgar de contra-informação, sendo que casos idênticos aconteciam também no litoral da França.

Transcrição, tradução e anotações de Edgar Cavaco