Doc. 429

 

[Declaração dos feitos de Sebastião Martins Mestre pelo Conde de Castro Marim]

 

Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses, Conde de Castro Marim, Monteiro Mor do Reino, etc.:

Atesto que o Tenente-coronel Sebastião Martins Mestre, da cidade de Tavira, foi dos primeiros que, naquela cidade, levantou a voz da liberdade portuguesa no dia 13 de Junho, aclamando o Real Nome de Sua Alteza Real, e é tal a sua aderência à causa que defendemos, que havendo tropas inimigas naquele Reino [do Algarve], ele, superando todas as dificuldades e perigos a que se ia expor, entrou na Fortaleza de S. João do registro da Barra de Tavira; entusiasma os portugueses com a justa persuasão que o Nosso Augusto Soberano existia, e que não se iludissem das falsas promessas dos franceses, que em poucos momentos iam terminar. A esta acção assistiu sua mulher, D. Maria Felipes de Martins, e sua filha donzela D. Catarina Felipes de Martins, e uma grande parte do povo da freguesia da Conceição; elas se comportaram como duas heroínas, sabendo com singular destreza conter o referido povo, enquanto ele [Sebastião Martins Mestre] passou a bordo da Esquadra Inglesa que cruzava naqueles mares, a exigir socorros de armas; depois se transferiu à cidade de Ayamonte, e obteve-os para acudir e auxiliar a Revolução de Olhão, que se declarou no dia 16 do mesmo mês de Junho. Ele foi o Comandante dos Caíques que deram abordagem [em Olhão] às embarcações em que os franceses conduziam do porto de Tavira para o de Faro; tomou as bagagens e aprisionou mais de oitenta franceses, e no dia 18, na ponte de Quelfes, fez fogo ao inimigo e a 25 do referido mês trouxe-me de Espanha mil e trezentas e trinta armas que não podiam chegar em melhor ocasião, e era tal a necessidade que imediatamente as mandei distribuir. Durante este período, sua mulher e filha se conservaram na sua casa de campo, próximo à Fortaleza mencionada, expostas à vingança e ferocidade do inimigo, até ao dia 21, que a cidade de Tavira ficou liberta; a conduta destas duas senhoras foi exemplar, e os serviços que prestaram excedem a todo a expectação, e quando as circunstâncias o permitirem, é de esperar que Sua Alteza Real as atenda e remunere. Por esta me ser pedida, a mandei passar por mim assinada e selada com o selo das minhas armas.

Dada neste Quartel-General de Azeitão, 12 de Setembro de 1808.

Conde Monteiro Mor

 

Transcrição e anotações de Edgar Cavaco