Doc. 387

 

 

[Declaração dos feitos de Miguel do Ó pelo Marquês de Olhão]

 

 

 

Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses, Marquês da Vila de Olhão da Restauração, Conde de Castro Marim, etc.:

Atesto que Miguel do Ó, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Capitão Mor agregado às Ordenanças do Terço da cidade de Faro, foi um dos membros mais eficaz e exacto que teve a extinta Junta do Reino do Algarve, não só por cumprir com os seus deveres, mas por desenvolver o mais assinalado patriotismo na feliz Época da Restauração: ele deu o seu Caíque [Bom Sucesso] gratuitamente para ir ao Rio de Janeiro com a participação a Sua Alteza Real de haver sido expulsado o inimigo comum daquela parte dos seus domínios; ele espontaneamente se ofereceu para ir à sua custa à Praça de Gibraltar solicitar um empréstimo de dinheiro, comprar armamento, munições de guerra e vestuário para a tropa, o que tudo desempenhou como se devia esperar da sua actividade e honradez, que tanto o caracteriza; ele finalmente comandou interinamente em diferentes ocasiões o Terço de Ordenanças da referida comarca, em que deu novas provas da sua inteligência e aderência ao serviço de Sua Alteza Real, pela maneira com que recrutou numerosas levas para a primeira e segunda linha do exército; ele pôs em prática disciplinar o Corpo do seu Comando por meio de exercícios gerais e particulares, que ficou apto para fazer o serviço do país. Por estas circunstâncias, o considero mui digno, e credor de qualquer graça, que o Mesmo Senhor [o príncipe regente] haja por bem conceder-lhe. Por esta me ser pedida, a mandei passar por mim assinada, e selada com o selo das minhas armas.

Dada em Lisboa, a trinta de Outubro de mil e oitocentos e catorze.

Marquês Monteiro Mor

Transcrição e anotações de Edgar Cavaco