Doc. 383

 

 

[Declaração de três olhanenses sobre Joaquim Filipe de Landerset][1]

Nós, abaixo assinados, certificamos que, no dia dezanove de Junho de mil e oitocentos e oito, fomos chamados pelo Juiz de Fora de Faro, Manuel Herculano de Freitas Azevedo Falcão, e do Corregedor da mesma cidade, Manuel José Plácido, ao sítio do Torrejão, distante da vila de Olhão um quarto de légua, onde fomos, e aí achámos os ditos ministros e o Capitão francês que comandava a artilharia francesa, e juntamente estava também o Major da praça de Faro, Joaquim Filipe de Landerset, que tinha sido obrigado a ir para servir de intérprete da língua francesa, para que por ele se explicasse o tal Capitão francês, fazendo grandes promessas da parte do Corregedor Mor francês, que prometia na pessoa dos ministros portugueses que presentemente estavam, de não proceder a castigo algum aos de Olhão que se achavam levantados, logo que eles sossegassem, e não abandonassem o governo francês, e isto com as promessas mais fortes, afiançando isto com os mesmos ministros, pois confiava que poderíamos conseguir do povo aquilo a que os persuadíssemos, pela influência que julgava tínhamos nele. Estando nós nesta conferência vendo o que se nos prometia, e como o participamos ao povo, neste momento que chega um soldado a cavalo francês, do que chamavam Dragões, a toda a pressa, e chama de parte o dito Capitão de artilharia francesa, e lhe diz que Faro estava levantado também, e como falou em francês não percebemos, mas o dito Major da praça que tinha ido por interprete nos diz logo com grande alvoroço, o que ele dizia e que nada assentíssemos das promessas que nos faziam, porque Faro estava igualmente levantado, o que o dito Major fez com maior risco na dúvida de qual seria o resultado, e todos nós, depois desta declaração, nada quisemos mais tratar com o dito Capitão, e nos voltámos logo todos alegres e contentes, publicando o que era sucedido, o que se deveu àquela fiel participação do dito Major. Assistiu também a esta conferência José Micano, Juiz do Compromisso (já falecido). É o que se passa na Verdade, por nos ser pedida esta pela Ilustríssima Senhora Dona Maria do Carmo da Franca, viúva do dito Major da praça. Passámos esta, e assinámos em Olhão, aos nove de Janeiro de mil e oitocentos e quinze.

 

[Alfredo] Lourenço Mendes, Capitão

Joaquim Ribeiro, Tenente da Marinha

Domingos do Ó, Contra-Mestre da Armada Real


 

[1]       Este documento atesta o papel que teve o major Joaquim Filipe de Landerset nas conversações que tiveram lugar no sítio do Torrejão, no dia 19 de Junho de 1808, entre alguns olhanenses e militares franceses, que se tinham feito acompanhar por autoridades farenses, entre os quais o dito major, que tinha sido obrigado a fazer de tradutor. Os três olhanenses que assinam a presente declaração são Joaquim Ribeiro e Domingos do Ó, dois dos tripulantes que embarcaram no caíque Bom Sucesso, alguns dias depois dos factos narrados, e Alfredo Lourenço Mendes, que em 1808, era oficial de milícias da Companhia de Ordenanças de Olhão.

Transcrição e anotações de Edgar Cavaco