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Vivenda Victória
Um exemplo das várias manifestações revivalistas em Olhão, relativamente aos estilos históricos, é esta vivenda datada de 1918, situada junto à estrada Nacional 125, na zona de expansão norte da vila.
Foi construída sobre uma antiga propriedade, uma quinta agrícola, onde existiam, além da vivenda para habitação dos proprietários, armazéns e estufas tratadas por caseiros.
Os seus originais proprietários, oriundos de Itália, em busca da abundância de peixe da nossa costa (Antero Nobre, História Breve da Vila de Olhão da Restauração, op.cit.p.127), mandaram erguer esta casa, quando aqui se estabeleceram no princípio do século XX, para montarem as fábricas de conservas de peixe, junto ao grande porto olhanense, numa altura em que a indústria conserveira atinge o seu apogeu. Posteriormente venderam-na a José Guerreiro Mendonça, possuidor de Casa Bancária local, com o seu nome costa (Antero Nobre, História Breve da Vila de Olhão da Restauração, op.cit.p.195). Pouco tempo depois (entre 1930-1940), é comprado por Tomás Saias, um antigo emigrante no Brasil, que juntamente com os irmãos funda em Olhão a fábrica conserveíra Luso-Brasileira Saias Irmãos e Companhia Limitada e uma outra de estiva (a firma Madrugada). Silvéria Saias, filha e herdeira de Tomás Saias, foi proprietária do edifício e lá morou com o marido e filhos até cerca de 1970. Por volta do ano 2000 a Câmara Municipal de Olhão adquiriu o edifício, coincidindo com uma aceleração do processo de deterioração que então já existia, sendo atualmente quase uma ruína à beira da EN 125.
Esta vivenda com referências neogóticas e arte nova, traduz o bem estar das novas famílias aburguesadas. É evidenciada por uma torre de secção quadrangular que termina numa cobertura escamada exageradamente pontiaguda e apontada ao céu, destacando-se da restante construção. Esta, eleva-se a três pisos, divididos por faixas estreitas de azulejos arte nova, que lhe dão um tom cromático e separa as diversas fenestrações, bem enquadradas em cada face da torre. Os janelões do último piso, geminados em duas das faces e de forma ogival, iluminam o interior, através de vitrais policromos, estruturados por caixilharia de ferro.
0 uso de emolduramentos em pedra ainda é visível em todas as aberturas, bem como a predominância do ferro na decoração dos beirados, assemelhando-se a um rendilhado oriental, muito típico nestas construções ("chalet" Baieta, "chalet" Saias e muitos dos "chalets" românticos).
Toda a construção foi sobrelevada num soco, vencido por ampla escadaria na parte lateral, hoje completamente danificadas, concebidas, decerto, para engrandecer o conjunto.
À frente, um alpendre de telha vermelha e rendilhado orientalizante, com colunas simples procura requintar a entrada.
A coberturas pronunciadamente pontiagudas de duas, três e quatro águas, são igualmente características destas construções.
A vivenda Vitória encontra-se atualmente num estado de degradação deplorável e humilhante.
Fonte: este texto foi quase totalmente copiado do trabalho de mestrado de Maria de Lourdes Lima - Manifestações da arquitectura revivalista no Algarve, rotas de um património a preservar - 2002), no entanto foram feitas alterações de pormenor relativamente à evolução mais recente do edifício.