A Rua do Comércio já se
chamou Rua do Rosário, mas os olhanenses sempre se lhe referiram como Rua
das Lojas.
Nasceu com um traçado
estreito que ligava os bairros ribeirinhos ao largo
da Igreja Matriz e foi,
desde sempre, um eixo urbano da maior importância não só por acolher a
maior parte da vida comercial como também por alojar as
instituições públicas que
foram sendo criadas na vila.
Testemunha da sua importância é o facto de ter sido a primeira rua a ser
calcetada em 1838.
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Rua do Rosário, provavelmente na 1ª década do século XX |
No início do século XX, o
dinamismo da Vila de Olhão reflectia-se na Rua das Lojas: escritórios de
advogados, médicos e de empresas conviviam com estabelecimentos
comerciais variados que incluíam alfaiates, ourivesarias, camisarias,
drogarias e ferragens, sapatarias, cafés e outros. A
rua era, toda ela, "um mostruário de Olhão, da sua maneira de viver e
sentir".
Recordemos,
então, o seu movimento na década de 20, nas palavras de João
Villares:
O
movimento era intenso, as carroças que transportavam o peixe do cais,
para fábricas espalhadas pela vila, faziam por ali o seu caminho de ida
e volta [...]
Por
outro lado, muitas pessoas montadas nos seus burricos, vinham ali fazer
compras, e os animais ficavam à porta, enquanto os donos se aviavam nas
lojas.
Em
todo este bulício, uma nota constante. Era o matraquear dos socos e dos
cloques [...].
Lá estava o Balance, a
vender ceriais, as favas e as ervilhocas, e do outro lado quase em
frente, uma pitoresca casa onde uma senhora vendia pagelas religiosas,
sanguessugas, repolhos, ervas para curar as mais diversas mazelas e no
tempo próprio, ali apareciam melões e melancias, expostas à porta. Era a
loja da Mariazinha do Albino.
De lembrar ainda a casa de fazendas do senhor Joaquim da Silva Nardo,
que no fundo do estabelecimento, tinha um pipo de vinho, onde reunia os
amigos para cavaquearem e beberem uns copos.
Podia-se ver a mercearia do José Ventura, moderna, asseada de luxuosa
apresentação, onde as pessoas do campo não ousavam entrar.
Podíamos espreitar a barbearia
"Chic", do Justino Abeilardo, conhecido pela alcunha
de "Pai do Céu", anunciando no "Correio Olhanense" que a sua casa era a
mais higiénica
e luxuosa de Olhão e a única que tinha "Cadeiras de Sistema Americano".
E já agora, para desespero daqueles que hoje têm que ir ao barbeiro,
informamos que este símbolo
de modernidade e asseio, cobrava por cada barba oito tostões,
lavagem da cabeça dez tostões, e corte de cabelo e barba, dois escudos e
cinquenta centavos.
Logo de manhã, viam-se as creadas com o
seu cesto na ida ou vinda dos mercados das verduras ou do peixe. O ruído
das ferraduras dos burros, misturava-se com o pregão de alguns
vendedores, e as vozes das vendedoras de figos e de mel, numa colorida
gritaria.
Os comerciantes de
roupa feita, à falta de montras, dependuravam à porta e às janelas, as
capas, os fatos e as carapuças.
Outros mais ousados,
para chamarem a atenção, como fazia a Casa Brasil, ligavam um
altifalante ao gramofone, e espantavam o público com esta novidade
revolucionária.
Ali apareceu a
primeira tabuleta luminosa, e coisa incrível, uma coisa mesmo mágica, um
outro apresentou um "placard" luminoso onde se podiam ler as notícias do
dia.
Da parte da tarde
este rumor, esmorecia um pouco. Era a hora de as senhoras saírem à
rua para passear e ver o que havia de novo nos estabelecimentos das
modas. Entrava-se nos Armazéns do Chiado ou na Casa Africana para
ver as últimas novidades ou os novos tecidos, ou ía-se à Sapataria
Elite[...].
Espreitava-se o
Atelier Moderno, onde por um preço módico, se podia transformar ou
tingir os chapéus, ou comprar o último modelo, cópia fiel de aquilo
que se estava a usar em Paris.
O tempo fez calar o
barulho dos socos e das chalocas.
As carruagens foram
proibidas de estacionar nessa rua, e mais tarde só autorizadas a descer
e por fim foi vedada sua passagem por ali.
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Rua do Comércio, anos 50 |
Em 1933, a Rua das Lojas passou inteiramente a pedonal, e durante mais
três ou quatro décadas manteve o seu brilho e vivacidade.
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Rua do Comércio, anos 60 |
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Rua do Comércio, anos 70 |
Citação retirada de:
"Olhão e Abílio Gouveia", João
Villares
Publicado por
Esperança Afonso
em http://ruabaixoruacima.blogspot.pt/2016/02/urbanismo-xi.html