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PESCA A ANZOL NO ALTO MAR (CAÇADA)

Outro processo de pesca muito usado pelos pescadores olhanenses é a "caçada", a pesca à linha.

Com este processo captura-se sobretudo a pescada (merluzza) e outros peixes de bom porte.

Os aparelhos de pesca são constituídos por compridas e fortes linhas, de centenas de metros, tendo, a espaços curtos, pendurados, bocados doutra linha mais fina, cerca de meio metro – os estralhos – com um anzol no extremo. Este anzol é iscado com sardinha. Estes aparelhos estão acondicionados em seiras de esparto com o bordo revestido de cortiça, onde os anzóis vão espetados.

Esta pesca faz-se no alto mar. A perícia do mestre é conhecer no mar, quase com a terra perdida de vista, os locais dos pesqueiros.

E lá vai... e para lá navega... calculando o navego do barco... olhando de vez em quando para os montes que lhe ficam nas costas... e sondando quando julga estar no local pretendido... lança o aparelho na "beirinha" ou noutro pesqueiro já conhecido.

A "beirinha" é uma zona do Oceano a umas dezenas de milhas da costa em que a fundura aumenta abruptamente. Tem sido esta a explicação que me têm dado.

Estes pescadores partiam para a sua faina de madrugada e voltavam ao fim da tarde. Um homem da tripulação, mediante a remuneração de mais um "quarto de parte" tinha a incumbência de ir a casa de cada um chamar os seus camaradas. Era o "chamador". Em rua em que houvesse um desses tripulantes e alguém estivesse acordado na sua cama, ouvia, aí pelas 4 da manhã, bater de mansinho a uma porta e uma voz que dizia: - «Mano João (?) vá arriba com Deus que já são horas». O "chamador" só se ia embora quando ouvia resposta na casa de quem chamava. Lá iam para as suas vidas.

Eu tinha um vizinho desses, quase em frente da minha porta e durante muitos anos ouvi, de vez em quando, esse chamamento.

Era uma vida muito arriscada e trabalhosa. Arriscada, porque os barcos eram pequenos e com muitos homens a bordo para o seu tamanho e iam muito longe da costa. Eram lanchas abertas, sem cobertas, com uma tripulação de pouco mais ou menos 10 homens, à vela ou a remos. De alguns naufrágios tive conhecimento, em que morreram alguns homens. Num deles morreu toda a tripulação. E trabalhosa porque, muitas vezes, tinham de ir e vir a remos de bem longe.

Estes barcos foram sendo substituídos por outros um pouco maiores e a motor e, portanto, com mais tripulação. Hoje, as "caçadas" são barcos de bom porte que vão pescar nas costas de Marrocos e da Guiné.

Antes, que eu já não conheci a não ser um, eram barcos de bom porte mas à vela, com duas velas grandes e iam pescar a vários pesqueiros da costa portuguesa. Tal como hoje, faziam vários dias de mar.

O que eu conheci e devia ser o último, era o "Maria da Encarnação" salvo erro, do mestre Carlos Cativo (Balé Balé), que morreu à entrada da barra de Olhão, arrebatado de bordo por uma onda mais violenta, quando vinha no seu governo.

 

Retirado de:

Barbosa, José - Visto e ouvido... em Olhão... reflexões - Câmara Municipal de Olhão, 1993, pp. 141-142