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Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão

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O Rei de Andorra em Olhão - II

O Olhanense de 15 de Dezembro publicámos um artigo sobre Boris Skossyreff que, depois de ter sido Rei de Andorra durante uma semana, foi expulso pelos espanhóis para Portugal, acabando por permanecer alguns meses em Olhão, em 1935, até sair para Marrocos e posteriormente para França.

Francisco Fernandes Lopes privou com este “rei”, e escreveu vários artigos n’ O Diabo em 1935, no qual descreve as aventuras de Boris até à sua saída de Olhão, os quais, devido ao seu interesse histórico, a APOS colocou na sua página web e divulgou em Novembro de 2007, junto do Instituto Camões, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Embaixadas de Portugal em Andorra e de Andorra em Portugal, e várias associações de emigrantes portugueses em Andorra.

Em resposta, o Instituto Camões teve a amabilidade de nos informar ter solicitado à Embaixada de Portugal a divulgação dos artigos junto dos meios académicos andorranos. Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros informou-nos ter enviado o documento para análise ao seu Instituto Diplomático.

Mas mais interessante foi termos sido contactados por um estudioso alemão – Gerhard Lang -, que viu na web os textos de Francisco Fernandes Lopes e contactou-nos por e-mail, informando-nos de vários artigos de Francisco Fernandes Lopes, publicados no Diário de Lisboa, que ele própria ainda não tinha e que nós também desconhecíamos. A APOS deslocou-se à Biblioteca Nacional, em Lisboa, no último mês de Dezembro, para pesquisar estes e outros artigos. Encontrou-os e enviou-os a Gerhard Lang.

Com a nossa pesquisa e as informações que Gerhard Lang nos deu, acabámos por resolver muitos dos enigmas sobre o destino de Boris Skossyreff e queremos agora corrigir muitas informações erradas que escrevemos neste jornal em 15 de Dezembro de 2007.

Efectivamente, graças aos esforços do Dr. Carlos Fuzeta e outros amigos olhanenses, Boris consegue um passaporte (Gerhard Lang enviou-nos cópia que apresentamos em anexo) e sai de Olhão em 1935 para França, via Tânger. Aqui há um episódio curioso que Francisco Fernandes Lopes narra no Diário de Lisboa de 16-6-1958: em França a polícia apreende-lhe o passaporte português e Boris telefona aflito ao Dr. Lopes pedindo-lhe que este solicitasse ajuda ao Presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar, que ele considerava “funcionalmente honesto”. Francisco Fernandes Lopes não sabe se houve interferência de Salazar, mas a verdade é que o passaporte foi devolvido…!

Posteriormente, Boris ainda regressou a Portugal, em 1936, onde foi novamente preso por não ter autorização de residência. Regressa a Espanha onde é preso mais uma vez mas, com o início da Guerra de Espanha segue em 1936 ou 1937 para França onde volta a ser preso (Diário de Lisboa de 13-7-1937).

Depois de um breve período de liberdade, em Janeiro de 1939 regressa à prisão no campo de Rieucros. No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, é transferido para o campo militar de Verner d'Ariége e só em Outubro de 1942 é libertado pelos alemães ocupantes. Provavelmente a libertação de Boris terá obedecido a um acordo que passou pela sua ajuda na frente russa, onde foi intérprete do exército alemão.

Passaporte que permitiu a Boris sair de Portugal no final de 1935 (enviado à APOS por Gerhard Lang em Dezembro de 2007, que o encontrou num museu, em França)

 Com a vitória dos aliados, Boris é primeiro preso pelos americanos e depois dum breve período de liberdade, volta a ser preso em 4 de Dezembro de 1946 pelos franceses que ocupavam Berlim. Na prisão de Coblence-Metternich, onde permaneceu até dia 17 de Dezembro, é muito maltratado pelos gendarmes franceses devido ao seu colaboracionismo com os nazis.

Passou a ter residência em Boppard (Alemanha Ocidental) mas por qualquer razão ainda não esclarecida deslocou-se à zona controlada pelos soviéticos e acabou por ser preso e condenado a 25 anos de trabalhos forçados num campo da Sibéria. Acabou por ser libertado em 1956, voltou para Boppard e aí terá morrido só em 1989!

Ao que parece este último período da sua longa vida foi calmo e pacato. Em 1958 escreve a Francisco Fernandes Lopes onde refere as saudades que sentia do seu amigo, de Olhão e de Portugal. Nestas cartas, ele explica o seu percurso, e pede a Francisco Fernandes Lopes que lhe envie toda a documentação que lhe tinha deixado, para escrever as suas memórias.

Oportunamente contamos publicar neste jornal os artigos de Francisco Fernandes Lopes publicados no Diário de Lisboa de 16-6-1958 e 5-7-1958 que, para Gerhard Lang, são considerados muito importantes para o esclarecimento da vida de Boris.

António Paula Brito

APOS – Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão