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Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão

OLHÃO PARA O CIDADÃO

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O Bairro da Barreta

A Barreta é o bairro mais antigo da cidade de Olhão, base da fundação do que se veio a tornar a actual cidade, junto à frente ribeirinha com a Ria Formosa e aos mercados municipais, ambos ex-libris da cidade. Tem várias características muito específicas que conjugadas, o tornam um caso singular, tanto ao nível regional como nacional e até internacional.

Em primeiro lugar a arquitectura "cubista", termo encontrado para definir estas típicas casas, atendendo ao aspecto de aglomerados cúbicos que as mesmas assumem nos bairros mais populares.

Em segundo lugar, a génese histórica totalmente original, porque não foi herança da ocupação árabe, terminada no séc. XIII, mas sim herança da emigração dos olhanenses para o Norte de África, iniciada no séc. XVIII. Efectivamente, Olhão é uma cidade cuja primeira construção de alvenaria só foi autorizada em 1715, cerca de 5 séculos após a expulsão dos árabes do Algarve, sendo por isso caso único no mundo, onde europeus modernos construíram um bairro com características mouriscas … só após o séc. XVIII.

Quanto à arquitectura “cubista” deste Bairro existem também singularidades que a afastam do mero decalque arabizante: enquanto as casas islâmicas não tem parapeito no terraço (ou o têm muito baixo), as casas cubistas têm sempre um parapeito alto a delimitar a açoteia ou terraço; por outro lado, ao contrário da típica casa marroquina (ou mesmo, a típica casa algarvia), as casas cubistas de Olhão têm frequentemente no terraço um pangaio ou mesmo uma divisão maior (num canto) e, em cima desta divisão, mais um segundo terraço (o mirante) e, ocasionalmente, em cima deste aparece mais um compartimento menor (sempre a um canto), encimado por um terceiro terraço (o contramirante).

Estas casas são assim pirâmides que crescem em degraus (o compartimento superior está sempre a um canto) e, como as casas contíguas nem sempre têm as mesmas alturas, o espectáculo é tridimensionalmente algo caótico, de cubos brancos que se amontoam, encostados uns aos outros.

Outras especificidades são as aplicações da açoteia e do mirante, bem diferentes das utilizações marroquinas e até mesmo algarvias: o mirante servia (e ainda serve) para observar a entrada dos barcos e o estado do mar; a açoteia tinha a função de logradouro (para arrumos do tudo aquilo que prejudicava a pequena área de habitação, secagem de frutos, secagem de roupa) e nela se acrescentava divisões da casa em altura.

No entanto, curiosamente, o Bairro da Barreta apesar de ser único no Mundo, é também muito representativo de outros aglomerados urbanos que se formaram noutros locais do Algarve, com carácter provisório, sempre construídos por pescadores pobres quando se deslocavam sazonalmente para trabalharem nas armações de atum. Nestas situações, os pescadores construíam cabanas de colmo de Março a Maio, geralmente em filas simétricas. Posteriormente, regressavam aos seus locais de origem mas, alguns destes pescadores mais pobres acabavam por permanecer todo o ano no local, e começavam a pressionar as autoridades para obterem licenças de construção em alvenaria (no caso da Barreta só veio em 1715!). O conjunto de cabanas era chamado “bairro” e por isso, ainda hoje o aglomerado da Barreta se chama “Bairro”, sendo talvez o melhor exemplo algarvio de antigas cabanas de pescadores transformadas numa urbe dinâmicas de casas de alvenaria.

As casas são todas pintadas de branco para evitar o mais possível os excessos de calor do clima mediterrânico.

Este Bairro era (e ainda é) quase exclusivamente habitado por pessoas ligadas às actividades do mar. Depois de um período relativamente longo de grande dinamismo do bairro e da cidade, iniciou-se uma certa letargia nos anos de 1960 e 1970 quando a pesca e a indústria conserveira, outrora de grande dimensão (com cerca de 80 fábricas de conserva), entrou em franca crise, existindo actualmente apenas duas fábricas.

Neste momento, o bairro está em grande declínio e degradação, fruto da idade dos edifícios, da fraca capacidade económica dos seus habitantes e da ausência de um plano de recuperação e revitalização assente numa vontade política, assim como a inexistência de apoios concretos, nomeadamente financeiros.

 

Nota: este texto consta de projecto de requalificação da Barreta, proposto pela APOS à Câmara Municipal de Olhão ao abrigo dos novos financiamentos do QREN, e que esta recusou em Agosto de 2007, alegando estar preparando uma candidatura semelhante. O artigo foi publicado n' O Olhanense de 1 de Abril de 2008

 António Paula Brito

APOS – Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão